E agora o Pat vai dizer como odeia nozes. Meus pensamentos vagavam diante da conversa descontraída de meus colegas. A Olly vai mexer de leve no cabelo. Conhecia-os tão bem, e a tanto tempo, que já era capaz de prever suas reações diante de uma ou outra situação. E agora chega a parte em que ela fala sobre o delicioso bolo de nozes que sabe fazer. Mas, afinal, qual era o sentido de tudo isso? Eu deveria sentir-me feliz, simplesmente por ter bons amigos e diversas oportunidades de uma longa conversa. Pat vai fazer aquela carinha de quem não consegue montar um quebra-cabeça complicado e sugerir um bolo de chocolate. Tudo me parecia tão entediante e monótono, como se assistisse ao mesmo filme pela quarta vez seguida.
Os sonhos com Len tornavam-se cada vez mais frequentes, mas a minha esperança de encontra-lo ficava cada vez mais fraca. Não sabia mais o que pensar daquilo, e não havia ninguém a quem eu pudesse contar sem passar por uma grande idiota. Olly vai rir, aquele riso delicado e alto, característico dela. Uma imagem me chamou a atenção: era uma mulher, simples, jovem, bela, mas havia algo estranho em seu olhar, ele parecia me prender numa espécie de encanto. Não havia nada de diferente nela, exceto pelo olhar, claro, mas não havia nenhuma ameaça em suas feições, ao contrário, apesar da distância de uma pequena praça silenciosa entre nós, era possível ver que seu rosto era delicado, com traços bem femininos e comuns. Pat vai começar a rir também, um riso mais grave e escandaloso. Apenas sorrio, vendo a felicidade simples de meus amigos.
A estranha estava parava, mais a diante, ainda no mesmo lugar, nos observando atentamente. Encarando-nos. Não me lembro de onde ela veio, mas me parecia que as pessoas simplesmente não a viam. Tinha os finos cabelos louros, próximos a altura do ombro, e usava um leve vestido marrom-claro, não chamava muito a atenção, mas todos a ignoravam. Ela simplesmente aparecera, causando-me uma leve sensação de mal pressentimento. Não achei que seria adequado interromper o momento de meus amigos com minhas implicâncias infantis. Um rápido arrepiou percorreu meu corpo, assim que sustei seu olhar.
- Anne? Você tá bem? - Ouvi a voz de Olly atrás de mim. - Parece meio desanimada hoje...
O suave som de sua voz me retirou dos pensamentos alheios. Levei um breve segundo para me concentrar no que ela dizia e realmente entender a pergunta repentina. Virei-me para olhá-la.
- Só estou pensando, Nicolly, está tudo bem - De repente me senti um pouco deslocada daquele lugar, minha voz parecia mais fraca e distante. Dei um leve sorriso. - Não há nada com que se preocupar. - Uma brisa tocou meus cabelos e tudo pareceu movimentar-se.
- Mary! Ai, meu Deus! Ajudem, alguém!- Os gritos de Patrick, são a ultima coisa de que me lembro daquele dia.
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