terça-feira, 10 de dezembro de 2013

I. Os sonhos

    Caminhava calmamente, observando com fascinação a paisagem ao seu redor, não sabia onde estava e muito menos como havia chego até ali. O lugar revelara-se encantador e sombrio ao mesmo tempo, um paradoxo perfeito entre a realidade e os sonhos. Altos pinheiros pareciam cortar o veludo negro que o céu se tornara, uma imensidão de trevas enlaçada com um ponto de luz solitário, a lua estava em seu auge, cheia e brilhante, iluminando parcialmente os lentos passos da menina. Galhos mais baixos arranhavam sua face e corpo, o quebrar das folhas sob seus pés parecia se unir as canções noturnas, era apenas mais uma leve e sinistra melodia em meio aos sonetos daquela floresta assombrada. Um arrepio percorreu-lhe todo o corpo. Uma delicada brisa surgiu para bagunçar-lhe os longos cabelos negros. Seus olhos, amedrontados, saltavam rapidamente em todas as direções, sentia-se observada.
   Uma melodia ecoou atrás de si, a nova musica começara, o som dos galhos se quebrando unia-se a um dueto natural com o farfalhar das folhas e o assobiar do vento entre as árvores. Uma onda de calor surgiu atrás de si, a sua frente, as sombras dominaram o mundo. Virou-se. Pode observar com clareza as chamas lançadas ao ar, beijando as árvores e então descendo ao seu redor, como se numa estranha dança de vida e morte. O animal era gigantesco, as escamas brancas estavam levemente iluminadas pelo fogo que reluzia nas árvores, chamas de um azul intenso, quase vivo. O vento ficava mais forte a medida que as asas se agitavam e o animal descia dos céus à terra. A suavidade e rapidez de seus movimentos, deixou-os frente à frente, humana e dragão. O reflexo da pequena mulher jazia refletido perante a imensidão dourada dos olhos do animal. Silêncio. Até a natureza parecia aquietar-se. O dragão elevou a cabeça, chamas azuis dançaram no ar, cortando o céu. Quando as chamas novamente desceram ao solo, os olhares se encontraram, dragão e mulher, presos nos sentimentos um do outro. 
   As folhas rodopiavam levemente ao seu redor, "Mary Anne", a natureza se silenciara aos ouvidos da menina, "Mary Anne", o vento levava-lhe um leve sussurro, um segredo, "Anne", a menina fechou os olhos por um segundo e desatenta a tudo que acabara de acontecer, tentou concentrar-se apenas no doce som da voz que a chamava, então reconheceu-a. Abriu novamente os olhos, o sol nascia e onde antes estivera o grande animal albino, bem a sua frente, havia apenas um lago de águas calmas e cristalinas. Ficara ali parada por tanto tempo assim? Não, não podia ser. De onde viera aquela paisagem? Onde estava a floresta assombrada? Saíra da tempestade para a calmaria. "Mary Anne, por favor", algo chamou-lhe a atenção, as águas revelaram-lhe um novo reflexo, rapidamente elevou o olhar e pode vê-lo. 
    A brisa brincava-lhe com as roupas, puxando de leve a camisa de linho branco e a jaqueta de couro velho que usava, as roupas eram diferentes, estranhas, para Mary pareciam retiradas de algum velho livro de contos. Os cabelos, de um belo castanho claro, estavam bagunçados, movendo-se junto ao vento, exatamente como ela se lembrava. Porém, os olhos de um azul-escuro, quase negro, que revelavam sempre um brilho de confiança, os quais ela sempre conhecera e amara, agora estavam tristes e sem esperança, não era mais o mesmo garoto de antes, faltava-lhe algo, faltava-lhe alguém. "Len, não pode ser", sua voz saiu fraca demais, ele não a ouviu, Lennox apenas virou-se, afastando-se a passos largos, "Não, Len, não me deixe, não, de novo não", a voz de Mary desaparecera, mas os pensamentos gritavam, "Por favor, Len", as lágrimas corriam por seu lindo rosto, suas forças desapareceram repentinamente, a garota caiu na grama verde que lhe amparou com generosa delicadeza. Viu-o olhando para trás, seus lábios se movimentaram numa silenciosa despedida,"Adeus, pequena Anne". O mundo se tornou negro novamente. 
    Quando acordou, estava em seu quarto, deitada em sua macia e confortável cama, uma voz familiar a chamava, era sua mãe.       

Um comentário:

  1. Natasha, adorei o texto! Você escreve muito! :) Um dia vai publicar vários livros, eu sei :)

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