quinta-feira, 11 de abril de 2013

Lua


     As luzes do apartamento estavam apagadas, a pouca iluminação vinha da televisão muda, eu estava deitado no sofá, pensando em meus futuros atos. Uma brisa suave entrou pela janela, a sala pareceu ficar mais fria e um arrepio rápido percorreu todo meu corpo. Estava na hora, peguei uma jaqueta qualquer e saí, não queria me atrasar. O restaurante em que marcamos ficava a poucos quarteirões do meu prédio, resolvi ir andando. A lua destacava-se, cheia, no céu negro, parecia ter um tom avermelhado, o que me trouxe boas lembranças. As ruas estavam desertas e, algumas, pouco iluminadas, meus passos alternavam, ora lentos demais, ora rápidos demais. Uma garoa fina começou a cair, completando a cena depressiva e melancólica em que eu estava, tudo indicava que seria uma noite fria, e algo me dizia que também seria longa e inesquecível.
     A garoa havia parado, uma leve neblina tomara seu lugar. Estava numa rua mal iluminada, várias árvores compunham o cenário, de longe, podia se ouvir o farfalhar das folhas. Fechei os olhos por um instante, um vento aconchegante soprou em meu rosto e, novamente, um arrepio percorreu meu corpo, afastei todos os pensamentos, todo o passado que pesava sobre meus ombros e, por poucos segundos, senti-me limpo, como não me sentia há muito tempo. Mas, as mágoas me lembraram de como minhas mãos eram sujas, e que não merecia aquele momento de paz, tinha planos a cumprir, abri os olhos novamente. Alguém caminhava em minha direção, era ela, Angel, minha atual namorada. A pouca luz deixava aquele rosto delicado ainda mais bonito, o vento parecia brincar com seus longos cabelos castanhos, enquanto um sorriso tímido surgia em seus lábios, ela se aproximou e olhou em meus olhos, ah, aqueles olhos verdes,  tão lindos, resplandeciam toda sua inocência.
    "Porque meu amor está aqui, numa rua deserta, caminhando tão solitário e tristonho?" ela perguntou, soltando uma pequena risada. Eu nada podia fazer, se não, entrar naquela brincadeira infantil, "Estava indo encontrar minha pequena, mas, parece que ela me achou primeiro", respondi, com sorriso forçado, fingindo ser um bobo apaixonado. "Mô, o restaurante tá fechado,  e agora?", ouvi aquela doce voz novamente. Droga, tudo estava planejado, agora, não seria possível seguir meus planos, mas, pensaria em algo mais tarde, por enquanto, apenas sorri e disse: "Ah, tenho uma ideia, então, que tal irmos para meu apartamento? Podemos pedir uma pizza, que tal?", ela apenas assentiu com a cabeça. O caminho até meu apartamento foi rápido, andávamos de mãos dadas, em silêncio, e com passos largos.
     Assim que entramos, levei-a até a varanda, com a desculpa de observarmos as estrelas, eu precisava ganhar tempo, precisava pensar em algo rápido. "Está chuviscando, de novo, a noite parece tão triste hoje, nem há estrelas no céu... Bem, a mesma pizza de sempre, meu amor?", enquanto Angel falava, um estalo veio em minha mente, já sabia o que fazer, "A mesma de sempre, pequena..", respirei fundo, pensando com cuidado no que iria dizer, enquanto andava em  sua direção, "Sabe, uma vez um amigo me contou que, às vezes, a lua fica nessa cor, meio avermelhada, em memória do sangue de vítimas inocentes, mas, eu nunca entendi porque a lua faria isso, afinal, todos somos culpados, e a única coisa que temos em comum é a morte..", quando ela percebeu já era tarde demais, minhas mãos estavam envoltas em seu pescoço e sua boca, ela se debatia com força e tentava gritar, mas, dessa vez fora ainda mais fácil do que com a anterior, era a terceira morte só esse mês. Em pouco tempo ela parou, desistiu da vida, talvez uma boa escolha, mas, prefiro quando elas lutam ou gritam, a emoção é maior. Beijei aqueles lábios já sem vida, “Bons sonhos, meu amor”, foram minhas últimas palavras para ela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário