As
luzes do apartamento estavam apagadas, a pouca iluminação vinha da televisão
muda, eu estava deitado no sofá, pensando em meus futuros atos. Uma brisa suave
entrou pela janela, a sala pareceu ficar mais fria e um arrepio rápido
percorreu todo meu corpo. Estava na hora, peguei uma jaqueta qualquer e saí,
não queria me atrasar. O restaurante em que marcamos ficava a poucos
quarteirões do meu prédio, resolvi ir andando. A lua destacava-se, cheia, no
céu negro, parecia ter um tom avermelhado, o que me trouxe boas lembranças. As
ruas estavam desertas e, algumas, pouco iluminadas, meus passos alternavam, ora
lentos demais, ora rápidos demais. Uma garoa fina começou a cair, completando a
cena depressiva e melancólica em que eu estava, tudo indicava que seria uma
noite fria, e algo me dizia que também seria longa e inesquecível.
A garoa havia parado, uma leve neblina
tomara seu lugar. Estava numa rua mal iluminada, várias árvores compunham o
cenário, de longe, podia se ouvir o farfalhar das folhas. Fechei os olhos por
um instante, um vento aconchegante soprou em meu rosto e, novamente, um arrepio
percorreu meu corpo, afastei todos os pensamentos, todo o passado que pesava
sobre meus ombros e, por poucos segundos, senti-me limpo, como não me sentia há
muito tempo. Mas, as mágoas me lembraram de como minhas mãos eram sujas, e que
não merecia aquele momento de paz, tinha planos a cumprir, abri os olhos
novamente. Alguém caminhava em minha direção, era ela, Angel, minha atual
namorada. A pouca luz deixava aquele rosto delicado ainda mais bonito, o vento
parecia brincar com seus longos cabelos castanhos, enquanto um sorriso tímido
surgia em seus lábios, ela se aproximou e olhou em meus olhos, ah, aqueles
olhos verdes, tão lindos, resplandeciam toda sua inocência.
"Porque meu amor está aqui, numa rua deserta, caminhando tão solitário e
tristonho?" ela perguntou, soltando uma pequena risada. Eu nada podia
fazer, se não, entrar naquela brincadeira infantil, "Estava indo encontrar
minha pequena, mas, parece que ela me achou primeiro", respondi, com
sorriso forçado, fingindo ser um bobo apaixonado. "Mô, o restaurante tá
fechado, e agora?", ouvi aquela doce voz novamente. Droga, tudo
estava planejado, agora, não seria possível seguir meus planos, mas, pensaria
em algo mais tarde, por enquanto, apenas sorri e disse: "Ah, tenho uma
ideia, então, que tal irmos para meu apartamento? Podemos pedir uma pizza, que
tal?", ela apenas assentiu com a cabeça. O caminho até meu apartamento foi
rápido, andávamos de mãos dadas, em silêncio, e com passos largos.
Assim que entramos, levei-a até a varanda, com a desculpa de observarmos as
estrelas, eu precisava ganhar tempo, precisava pensar em algo rápido.
"Está chuviscando, de novo, a noite parece tão triste hoje, nem há estrelas
no céu... Bem, a mesma pizza de sempre, meu amor?", enquanto Angel falava,
um estalo veio em minha mente, já sabia o que fazer, "A mesma de sempre,
pequena..", respirei fundo, pensando com cuidado no que iria dizer,
enquanto andava em sua direção, "Sabe,
uma vez um amigo me contou que, às vezes, a lua fica nessa cor, meio
avermelhada, em memória do sangue de vítimas inocentes, mas, eu nunca entendi
porque a lua faria isso, afinal, todos somos culpados, e a única coisa que
temos em comum é a morte..", quando ela percebeu já era tarde demais,
minhas mãos estavam envoltas em seu pescoço e sua boca, ela se debatia com
força e tentava gritar, mas, dessa vez fora ainda mais fácil do que com a
anterior, era a terceira morte só esse mês. Em pouco tempo ela parou, desistiu
da vida, talvez uma boa escolha, mas, prefiro quando elas lutam ou gritam, a
emoção é maior. Beijei aqueles lábios já sem vida, “Bons sonhos, meu amor”,
foram minhas últimas palavras para ela.

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