segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Bem-vindos a velha Roma

   Os relógios já são, diariamente, programados para reservar aquele momento especial de descanso em frente a televisão. A rotina dos brasileiros é organizada em função dos horários das telenovelas. Seja para assistir sozinho ou acompanhado, na sala confortável de casa ou numa mesa de restaurante, nenhum capítulo pode ser perdido e, se por um acaso isso ocorra, sempre é possível, sem maiores dificuldades, buscar os acontecimentos perdidos em revistas, sites da internet, ou, em homenagem àqueles que gostam de conversar sobre assuntos novelísticos, com os amigos. Uma vez que as telenovelas se tornaram um dos principais meios de entretenimento para a população, deve-se questionar até que ponto estas servem como uma mera recreação e onde começam a influenciar o desenvolvimento social e cultural da sociedade. Desse modo, as telenovelas brasileiras têm sido usadas com a finalidade de conscientização ou  apenas mais um meio de manipulação?
    Embora sejam apresentados vários problemas sociais, as novelas, que conquistaram o privilegiado horário noturno nas telas dos brasileiros, não necessariamente conscientizam a população. A dramatização Romântica e o exagero, quase que barroco, são mecanismos tão fortemente utilizados pelos produtores que chegam ao ponto de, para conseguir um enredo chamativo e cativante, ultrapassar a linha entre os acontecimentos lógicos e a irrealidade. Esta, não no sentido de  apresentar uma alusão folclórica ou mítica, cercando assuntos que, muitas vezes são corriqueiros e polêmicos entre as pessoas, tais como fantasmas, clones, e magia, mas sim no sentido de transcender as próprias leis humanas, chegar a fatos absurdos que passam, muitas vezes, despercebidos pelos telespectadores que têm sua atenção desviada para os temas de maior controvérsia, seja a mulher que traiu o marido, o vilão que foi pego ou que obteve sucesso, a vingança bem sucedida, a briga, ou até mesmo uma personagem em especial.
"Não penso. Não existo. Só assisto."
     Em realidade, as telenovelas poderiam, se utilizadas da maneira correta, sim, ser um bom veículo de conscientização, especialmente devido a sua alta repercussão. Porém, com toda a overdose melodramática que apresentam, estas ficam cada vez mais próximas de um meio de alienação, assemelhando-se com a velha política de pão e circo, fundada, oficialmente, pelos líderes romanos, que a utilizavam para lidar com a população em geral, mantendo-a fiel à ordem estabelecida e conquistando seu apoio.  A ideia em que essa política se baseava consistia, basicamente, no ato de desviar a atenção da população dos núcleos principais, política e problemas na sociedade, para núcleos humorísticos, na época, espetáculos de gladiadores, atualmente, recursos variados, futebol, televisão, mídia. Logo, a alienação, em muitos casos, acaba tornando-se involuntária, sempre indesejada, mas que, como um tímido visitante, vai chegando aos pouquinhos e se infiltrando na consciência da população.
      Em suma, não só as telenovelas, mas também toda a mídia, foram corrompidas pela soberba e desejo de poder dos que estão no comando do Brasil. País este que, segundo a revista inglesa The Economist, é "Um país de não-leitores", tendo como um principais fatores que desencorajam a leitura o fato dos livros serem tão caros. Mas, realmente, quando comparada com a televisão, a leitura é um hábito difícil de se formar. Os livros, que deveriam ser um incentivo do governo, competem com centenas de comerciais que anunciam, todos os dias, um novo capítulo da novela. Então, o que é apresentado aos brasileiros: Pão e circo ou educação?  

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