segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Trote universitário: diversão ou abuso?

   Um dos maiores motivos de comemoração durante a vida estudantil é a tão esperada aprovação na universidade desejada. Muitas festas são organizadas àqueles que conseguem passar no, as vezes tão temido, vestibular. Entretanto, em muitos casos, quando essa celebração ocorre no campo universitário, entre novatos e veteranos, o clima e o relacionamento entre estes não é tão agradável.
   A recepção aos recém-aprovados vai desde de brincadeiras mais saudáveis, que tem o consentimento do aluno que participará do trote e não envolve humilhações, ideologias machistas, sexistas ou racistas, são as tradicionais pinturas no corpo, o velho banho de lama, ou as mais recentes propostas de ações solidárias. Até aquelas em que há o abuso dos veteranos, forçando a participação dos "bichos", expressão comumente usada para se referir aos novatos, e realizando trotes que chegam a ultrapassar os limites morais, trazendo grandes consequências para os estudantes, sejam psicológicas ou físicas.
   Assim como o anti-herói Brás Cubas, personagem que evidencia seu caráter pendente à atos de "dominação" sobre os mais vulneráveis, do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, obra do autor brasileiro Machado de Assis, os responsáveis pela migração da tradição do trote se formaram em direito em Coimbra, como era comum entre membros da elite no século XIX. Assim, este ato foi incorporado às "boas-vindas" nos cursos de direito em São Paulo e Pernambuco, fazendo sua primeira, e não única, vítima fatal em 1831: o estudante Francisco Cunha e Meneses, da Faculdade de Direito de Recife.
   Persistentes até os dias de hoje, os trotes atuam sobre o pretexto de ser uma tradição que proporciona integração entre calouros e veteranos, entretanto, quando organizado de maneira ambígua, voltando-se para humilhações e constrangimentos, tornam-se um reforço à hierarquia interna da faculdade, uma relação de poder onde os estudantes mais experientes dominam sobre os novatos. Portanto, se baseados nesta visão egoísta e separatista de "sábios", veteranos, e "bichos", calouros, os trotes universitários naturalizam a violência, agredindo calouros que serão futuros agressores, gerando, sim, um castigo sem crime.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Bem-vindos a velha Roma

   Os relógios já são, diariamente, programados para reservar aquele momento especial de descanso em frente a televisão. A rotina dos brasileiros é organizada em função dos horários das telenovelas. Seja para assistir sozinho ou acompanhado, na sala confortável de casa ou numa mesa de restaurante, nenhum capítulo pode ser perdido e, se por um acaso isso ocorra, sempre é possível, sem maiores dificuldades, buscar os acontecimentos perdidos em revistas, sites da internet, ou, em homenagem àqueles que gostam de conversar sobre assuntos novelísticos, com os amigos. Uma vez que as telenovelas se tornaram um dos principais meios de entretenimento para a população, deve-se questionar até que ponto estas servem como uma mera recreação e onde começam a influenciar o desenvolvimento social e cultural da sociedade. Desse modo, as telenovelas brasileiras têm sido usadas com a finalidade de conscientização ou  apenas mais um meio de manipulação?
    Embora sejam apresentados vários problemas sociais, as novelas, que conquistaram o privilegiado horário noturno nas telas dos brasileiros, não necessariamente conscientizam a população. A dramatização Romântica e o exagero, quase que barroco, são mecanismos tão fortemente utilizados pelos produtores que chegam ao ponto de, para conseguir um enredo chamativo e cativante, ultrapassar a linha entre os acontecimentos lógicos e a irrealidade. Esta, não no sentido de  apresentar uma alusão folclórica ou mítica, cercando assuntos que, muitas vezes são corriqueiros e polêmicos entre as pessoas, tais como fantasmas, clones, e magia, mas sim no sentido de transcender as próprias leis humanas, chegar a fatos absurdos que passam, muitas vezes, despercebidos pelos telespectadores que têm sua atenção desviada para os temas de maior controvérsia, seja a mulher que traiu o marido, o vilão que foi pego ou que obteve sucesso, a vingança bem sucedida, a briga, ou até mesmo uma personagem em especial.
"Não penso. Não existo. Só assisto."
     Em realidade, as telenovelas poderiam, se utilizadas da maneira correta, sim, ser um bom veículo de conscientização, especialmente devido a sua alta repercussão. Porém, com toda a overdose melodramática que apresentam, estas ficam cada vez mais próximas de um meio de alienação, assemelhando-se com a velha política de pão e circo, fundada, oficialmente, pelos líderes romanos, que a utilizavam para lidar com a população em geral, mantendo-a fiel à ordem estabelecida e conquistando seu apoio.  A ideia em que essa política se baseava consistia, basicamente, no ato de desviar a atenção da população dos núcleos principais, política e problemas na sociedade, para núcleos humorísticos, na época, espetáculos de gladiadores, atualmente, recursos variados, futebol, televisão, mídia. Logo, a alienação, em muitos casos, acaba tornando-se involuntária, sempre indesejada, mas que, como um tímido visitante, vai chegando aos pouquinhos e se infiltrando na consciência da população.
      Em suma, não só as telenovelas, mas também toda a mídia, foram corrompidas pela soberba e desejo de poder dos que estão no comando do Brasil. País este que, segundo a revista inglesa The Economist, é "Um país de não-leitores", tendo como um principais fatores que desencorajam a leitura o fato dos livros serem tão caros. Mas, realmente, quando comparada com a televisão, a leitura é um hábito difícil de se formar. Os livros, que deveriam ser um incentivo do governo, competem com centenas de comerciais que anunciam, todos os dias, um novo capítulo da novela. Então, o que é apresentado aos brasileiros: Pão e circo ou educação?  

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Nada se perde, tudo se transforma

     Ensinados desde o berço, os valores morais são responsáveis pela manutenção da ordem entre as pessoas, sendo impostos pela sociedade em que se vive e variando em alguns preceitos básicos de acordo com a cultura local. Independentemente de quaisquer afirmações acerca da moral e da ética, vê-se em comum a finalidade geral que pode ser definida como "respeito à vida". A consciência dos valores morais não morre e muito menos pode ser destruída, ao passo que é moldada conforme as necessidades e influências do convívio com os demais grupos sociais, uma vez que a vida não é individual, mas sim coletiva, dependente de outras.
     Passados de geração em geração, os princípios da moralidade, ou a sua falta, são evidenciados em atitudes diárias do cotidiano. Esse é provado através de escolhas, boas ou ruins, pensadas ou impulsivas. Segundo Immanuel Kant, o homem é um ser que se auto-regula a si mesmo e que se auto determina em liberdade, tendo poder absoluto sobre si e sendo, ao mesmo tempo, Legislador e Súbdito, assim, observa-se que, segundo o filósofo, o próprio ser humano delimita sua liberdade através da Razão e tem por juíz a sua própria consciência. Contudo, na sociedade, cada ato considerado por ela impróprio é julgado e punido perante as leis sociais vigentes. 
     Uma vez que o livre arbítrio encaixou-se na humanidade, nós, seres humanos, aproveitamo-nos da autonomia de pensamento para condenar os demais antes de analisarmos nossas próprias atitudes. Logo, deveríamos agir com a inocência e honestidade das crianças, que em pequenas atitudes demonstram mais sabedoria e compaixão que muitos adultos que, por ganância, erram, roubam, enganam, e não desejam mudar. Cometem crimes como a falta de amor pelo próximo, que leva a um homicídio, ou a irresponsabilidade de dirigir alcoolizado, que coloca vidas em perigo, ou ainda a soberba e a falta de respeito, que leva a corrupção e ao desvio de dinheiro publico.
     Contudo, nós vivemos em grupos, sociedades, e por isso um erro não é exclusivamente de uma única pessoa, a responsabilidade é de todos. Se há um político corrupto, é porque o povo o colocou lá, então, convém ao povo encontrar uma solução, seja uma ONG, uma reeleição, ou maior vigor quanto a ficha limpa. Assim é a ética, um instrumento indispensável para o bom funcionamento da sociedade e integração dos indivíduos nela. Valor moral é respeito à vida, nossa e de todos.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A luz dos olhos meus

     Os olhos... Dizem que são as janelas da alma, mas talvez sejam mais do que isso, talvez também tornem-se uma vitrine do coração, um retrato, você. Quem é você? Quem sou eu? Sou tudo aquilo que me torna mais eu, sou meus olhos, assim como tu és o seu olhar. Há olhares, e olhares, aquele é simples, é fácil, é físico, este é complexo, este, é você. 
     O que teus olhos já viram, pessoas ou vidas? Como são teus olhares, positivos ou negativos? Tens esperança ou apenas vive a cada a dia? Tudo o que és hoje, é um conjunto daquilo que teus olhos já viram. Tu enxergas ou vês a vida ao seu redor? Alguns enxergam, outros veem, mas qual seria a diferença? Bem, esta é a distância entre os olhos físicos e o coração sentimental.
     Há sempre um abismo de entendimentos em um texto escrito, pois só existe o auxílio de palavras que sem os olhares, o conjunto de expressões e interações que diferenciam as conversas, permanece imutável o risco de que tal desabafo não seja lido com os mesmos sentimentos com os quais fora escrito. Bem, talvez este seja o meu desabafo e as possibilidades de entendimento estão em suas mãos, faça bom uso delas. 
   Quando a luz dos olhos meus e as luz dos olhos teus resolvem se encontrar.